É sempre sobre a escuta
Mais do que o falar, saber calar. Tenho tentado aprender a fazer silêncio. Mas não o tempo todo, ou em situações em que só o diálogo é capaz de trazer clareza e alinhar o futuro.
Eu falo dos momentos em que não existe mais palavras suficientes pra expressar o que o outro não quer ouvir. Ou então, naqueles em que não me sinto disposta o suficiente a continuar uma discussão, ou quando não tenho nada de interessante a acrescentar…
O silêncio é uma dádiva, quando bem aproveitado. Disso eu sei desde sempre, por ter uma mente inquieta e tagarela. As vezes meus pensamentos dizem tanta inutilidade ao mesmo tempo, que eu não consigo escutar de verdade o que quem está aqui fora quer me dizer. Ou então, nessa maluquice, minha cabeça pega palavras inofensivas do outro e transforma em toda uma história terrível que me paralisa.
Mas será que precisa ser assim?
Para além do silêncio, tenho entendido cada vez melhor a importância de saber se ausentar. E aqui eu falo de presença mesmo.
Você não vai pra tal lugar ver tal pessoa? Ela deve estar com saudade de você e não vai viver pra sempre, ein!
Não, obrigada. Não tenho mais a menor disposição para cair nessas conversas. Já foi tanto tempo de pressão e chantagens emocionais, que eu estou escolhendo, racionalmente, e com toda a autoconfiança de quem talvez se arrependa no futuro, mas agora sente que é o melhor a se fazer, ficar aqui.
A gente precisa de muita coragem e perspicácia pra entender qual o momento de se colocar e se retirar. Infelizmente eu não me considero tão sábia a ponto de ter certeza de que estou tomando as decisões mais assertivas… Mas também me sinto brava o suficiente por tentar.
Já são quase trinta anos questionando, repensando, me afogando e me salvando da água nos pulmões. O processo é lento e gradual. Há dias que parecem impossíveis de ultrapassar. Mas é por isso que eu me recolho no silêncio e na ausência. Pra me escutar e tentar entender o que essa quietude está tentando falar. No fim, sempre é sobre a escuta.