TRIGÉSIMO INVERNO

Maria Elisa Nascimento
3 min readAug 5, 2024

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O marco de um novo tempo faz a gente colocar tudo em perspectiva. Os últimos dias de dezembro nos lembram dos planos que deixamos pra trás ao longo do ano. O primeiro de janeiro traz a leveza da ilusão de uma chance inédita. Bendito seja quem criou a tradicional canção da Globo.

Hoje é um novo dia de um novo tempo que começou

As horas continuam correndo, apesar da simbologia das datas e indiferente às nossas cerimônias. Mas continuamos ritualizando. E não fazemos pelo cosmos, e sim por autoproteção. Precisamos conseguir medir o tempo pra encontrar sopros de esperança nos momentos difíceis. É isso que nos faz transformar sonhos em realidade e enxergar magia no cotidiano. E só quem sobrevive ao tudo sabe o quanto essa faísca é essencial.

Foi partindo dessa mítica que eu me apeguei à celebração da minha décima terceira volta em torno do sol. O ponto de contagem me parece importante, chama uma maturidade que até pouco tempo atrás eu acreditava que não alcançaria. Me faz questionar lugares, costumes e projeções. Será que eu não deveria estar em outro lugar? Agindo de forma mais adulta? Com os pés mais aterrados ao chão? Será que acabou a brincadeira, ou a gente só para quando morre?

Já são trinta anos tentando me perceber em meio aos rituais. Família, escola, faculdade, trabalho, amores, amigos e colegas. Colecionando certezas de quais comportamentos eu não quero reproduzir. Mudando de ideia sempre que enxergo uma perspectiva mais interessante. Aprendendo a aceitar a ignorância e abraçar a delícia que é admitir que não sei opinar.

Se achar o sabe tudo é coisa de adolescente e de velho teimoso. Uma das fases eu já ultrapassei, pra outra eu espero não chegar. Velha, sim. Engessada das ideias? Eu realmente espero poder ser melhor que isso.

Agora que estou deixando os vinte para trás, percebo novas preocupações e prioridades ocupando meu pensar. Tem coisas que eu deixava pra depois, mas agora já aceitei que é melhor deixar pra lá.

Sinto menos necessidade de me justificar e um pouco menos de medo de incomodar. Eu já cansei de me diminuir pra que outras pessoas pudessem caber nos lugares que eu queria ocupar… Tentando desesperadamente ser aceita por gente que continuou me repelindo... Vê se pode?

Nesse retorno de Saturno, não me comprometo com decisão alguma. Me sinto pronta pra cada uma das minhas incoerências. Abraço minhas inseguranças e não me incomodo em admitir que ainda vou errar muito tentando acertar…

Vai ter momentos mais fáceis e outros dificílimos. Eu vou me orgulhar pra caralho por ter conseguido me impôr em situações que até pouco tempo atrás me petrificariam… Mas eu sei que vai ser um saco me ver abrindo mão de algumas batalhas por conta do cansaço ou da necessidade.

E quer saber? Quando for assim, foda-se eu. E foda-se você, e toda e qualquer pessoa que eu não consiga controlar. O que é que eu posso fazer?

Aproveitar os momentos... Manter quem faz sentido por perto e fazer o meu máximo para demonstrar o quão preciosas essas pessoas são. Tentar ser gentil e compreensiva, mas me proteger dos espertinhos que vão querer me fazer de otária.

Deixar que as pessoas acreditem no que for mais confortável pra elas. Me livrar de embates desnecessários. Perceber que eu não preciso porcaria nenhuma… Sei lá, fica aí mais um monte de lenga lenga que mais parece trecho de livro de autoajuda, mas é só o que eu tenho sentido mesmo…

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Maria Elisa Nascimento

Apaixonada por palavras desde o dia em que aprendeu a falar, ela é curiosa e questionadora sobre tudo. Mora na Selva de Pedra e trabalha com Audiovisual.