FLORES MORTAS
Se eu pudesse te dar um presente, seria essa pequena alegria. Eu estou aqui quietinha, pensativa e apreensiva com as ideias de futuro. Me sinto pequena e insignificante. Não existe mais nada que você possa fazer pra me jogar no chão, uma vez que eu já me encontro aqui. Deitada. Em silêncio. Retomando o fôlego pra tentar me levantar.
Não sei se te consola, mas eu não cheguei até aqui pra questionar sua autoridade. Manda quem pode, obedece quem tem juízo. E eu sou só uma garota como qualquer outra, tentando sobreviver na cidade grande.
Meu custo de vida deve ser um terço do seu? Talvez menos, sei lá. Mas olha só, como eu sou irrelevante perto do tamanho de tudo que você conquistou.
E agora? Será que você enxerga como não vale a pena se sentir tão ofendida por alguém com uma vivência tão enxuta perto da sua? Será que tem como, se não for pedir muito, você me deixar com minha humilde insignificância, em paz?
Eu não estou te pedindo favoritismo. Não estou implorando que valide minhas ideias, não! Mesmo quando eu escolho expô-las. A gente consegue pensar diferente e se respeitar, não? A hierarquia continua imune à teimosia. Você venceu!
Eu sei, eu sei, eu me sairia melhor se mantivesse o bico calado. Eu juro que estou me esforçando pra pensar mais alto que o som da minha voz. Graças a Deus a gente é livre pra pensar sem que os outros escutem! Eu imagino que você também se console dessa forma… Mas eu posso estar errada, né.
Eu já aceitei minha ignorância. Eu abraço esse não saber com carinho. O que eu sei, eu uso do jeito que dá. Mas pode ser que o conhecimento se transforme, que as respostas não sirvam para as novas perguntas…
Será mesmo que a minha pequenez é tão irritante? Não me parece possível, alguém tão inofensiva causar tanto rebuliço dentro de alguém tão mais apta…
Pensa comigo! Você sabe que eu nunca fui tudo isso, né? Não precisa ficar repetindo toda a hora. Eu já entendi seu ponto.
Eu não vou questionar sua autoridade. Muito menos reivindicar os seus poderes. O que me interessa é a oportunidade de errar e aprender algo com isso.
Se você deixar esse ranço de lado e se dispuser a me ensinar, eu te dou todo o meu tempo, atenção e respeito. Faço o que você mandar com gosto. Eu anseio por alguma liderança que me faça crescer!
Mas se o seu negócio é esse… Se você só quer me fazer enxergar a minha pequenez… Então você já venceu. Eu reconheço, de verdade, o quanto sou minúscula quando comparada com todos os nomes que você repete.
E agora? Será que a gente pode só seguir em frente?