Saudade de casa
Uma menina tatuou a casa dos avós e mostrou o significado do desenho no tiktok. Lembrei da casa em que cresci. Depois de muito sonho, decidiram retornar à cidade em que nasceram. E para arcar com a nova vida, meu antigo lar foi despido da sua mobília e enfeitado com uma única placa…
VENDE-SE
Fui ver as fotos que tirei de lá uns dias antes de encaixotarem tudo. Nelas, estão os cômodos preenchidos da mesma forma que sempre estiveram, porque minha mãe odeia trocar as coisas de lugar.
Uma lágrima veio, seguida por tantas outras, que desisti de tentar parar. Que saudade que eu tenho de casa…
Okay, eu já sei… Precisa de todo esse drama? Meus pais estão em outro lugar, que minha mãe já está descobrindo como quer deixar. Estão saudáveis e sempre abertos à visita das suas crias… Etc.
Mas não é sobre isso. É sobre o valor que a gente aprende a colocar nos detalhes. É sobre uma coisa pequena, que se transforma em algo muito mais valioso pelas histórias que presenciou.
É sobre o quintal em que eu aprendi a andar de bicicleta, a árvore de bucha que me ensinou que bucha dá em árvore. Sobre o limoeiro que fez eu me apaixonar por suco de limão…
É sobre o teto com resto de cola das estrelinhas que brilham no escuro que eu colei quando pequena, pra tentar vencer o medo de dormir com a luz apagada. Sobre a mureta em que eu sentava pra olhar o pôr do sol e as infinitas estrelas que davam as caras à noite…
A sala que foi palco das peças teatrais criadas por mim e meus irmãos. As roseiras que eu destruí na primeira vez em que meu pai me persuadiu a tentar aprender a andar de moto…
O canteiro em que meu cachorro aprendeu a fazer suas necessidades sem ninguém ensinar. Para a alegria da minha mãe, que preferia limpar o cocô do jardim, do que do piso da sala.
Uma casa nunca é só uma casa, a partir do momento em que a gente a ocupa. As paredes ouvem e se pudessem falar, contariam histórias absurdas.
Eu queria poder voltar pra lá, mas esse lugar não é mais o que já foi. Agora, as paredes e cômodos vão se transformar em outra coisa, assim como tudo o que elas já foram antes de ser minha casa.
Eu choro, mas compreendo a necessidade da reinvenção em meio ao andar da carruagem. O mundo gira e o tempo dita as regras. Tudo bem.
Mas eu ainda sinto profundamente. A textura dos diferentes pisos, o calor do sol passando pela janela e o toque gelado das parades. Que saudade…