Super Mario Bros e a dificuldade masculina de lidar com o NÃO

Maria Elisa Nascimento
4 min readMay 8, 2023
Divulgação/Universal Pictures

*Atenção. Este texto contém spoilers!

Esse fim de semana fui ao cinema assistir a adaptação de um dos meus jogos preferidos da infância: Super Mario Bros. Redescobrir esses personagens em uma narrativa divertida, leve e cheia de referências nostálgicas foi uma experiência muito gostosa. Não é um filme de Oscar, mas entretém. E isso já é mérito suficiente pra qualquer obra.

Mas por mais que o intuito do filme não tenha sido fazer grandes críticas ou causar reflexões profundas, ele fez me acender uma ponta de desgosto. Eu saí do cinema reclamando.

“Cara, você percebe como toda a história desse filme só aconteceu por causa de um cara que não soube aceitar um fora?”

No filme, o objetivo do vilão Bowser é dominar o mundo e o coração da princesa Peach, que ele pretende tomar como esposa. Inclusive, a paixão avassaladora do inimigo de Mario é colocada como um recurso de humor. Com isso, o antagonista perde um pouco do caráter monstruoso e terrível e ganha alguma “humanidade”. O amor é sua pulsão e calcanhar de Aquiles.

Mas assim, posso falar? Se você é mulher, eu tenho certeza que olhou pra o Bowser e se lembrou de pelo menos (sim, eu estou escolhendo ser gentil) um cara que já conheceu.

É aquele brother que reage com foguinho em toda a foto que você posta nos storys, te manda mensagens completamente aleatórias e às vezes, se você tive muito azar, até nudes não requisitados. E que quando você diz que não gostou da surpresa, fica ofendido e te repreende. Te chama de vagabunda, faz algum discurso inflado e te bloqueia.

Afinal, que tipo de mal amada é essa que tem o privilégio de receber uma foto do meu pau… E acha ruim?

É aquele maluco que você conheceu em um rolê aleatório e com quem só trocou meia dúzias de palavras (se muito) mas te achou no Instagram e jogou uma cantada bem vulgar. E que você rejeitou educadamente uma, duas, sete vezes… Mas ele só entendeu quando você foi bem direta (e até meio grossa, porque né, paciência tem limite).

Claramente ele ficou irritado pela sua recusa. Por isso, parou de te responder e te excluiu das suas redes (se você teve sorte, porque sempre tem grandes chances desses caras te xingarem de tudo o que é coisa antes de te bloquear).

É aquele amigo que saía contigo e era sempre muito gentil com você (porque queria te comer). Aquele rapaz solícito, companheiro que passava um tempão conversando com você, mas assim que soube que você estava afim do amigo dele, ficou puto e começou a brigar contigo. Afinal, segundo ele, era inaceitável que você não enxergasse que vocês dois nasceram pra ficar juntos.

Como assim ele te tratava como uma amiga e você ainda assim não estava loucamente apaixonada? Um absurdo.

Bom, se você é homem e ainda está aqui me lendo, não me leve a mal. Eu sei que não é todo o cara! Mas é sempre um cara… E é impressionante como o alívio cômico de uma animação representa precisamente como é frágil a autoestima masculina.

O plano inicial de Bowser é ser gentil e romântico. Mas, projetando uma possível rejeição, ele também já tem arquitetado um contraplano para obrigar Peach a ceder. Clássico…

Ele tenta ser doce, mas quando princesa recusa suas flores, parte para a ameaça. Bate o pé, cospe fogo e chama o exército de amigos (ah, sim, eu nem me aprofundei sobre esse grupo, mas se você é mulher, você sabe muito bem do que eu estou falando) pra atacar a garota e a sua galera. Exausta, Peach finge que cedeu só pra acalmar os ânimos da tartaruga revoltada. Aí, como se trata de uma animação, a gata contra-ataca e enfim, com a ajuda de Mario, Luigi e Donkey Kong, derrota o vilão.

Fora da ficção, nem toda a mulher tem a mesma sorte de final feliz. Mas eu não quero abrir essa porta…

Em resumo, parabéns aos roteiristas. Vocês conseguiram desenhar (literalmente) a insalubridade que é ser perseguida por um homem obcecado que não é correspondido.

Observação 2.

Eu sei que a tartaruga apaixonada e obcecada pela princesa foi só um recurso cômico (e funcionou muito bem). E que fazer uma crítica social foda não estava entre os objetivos dos criadores do filme. Mas como essa carapuça serviu tão bem, não dava para perder a oportunidade de brincar…

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Maria Elisa Nascimento

Apaixonada por palavras desde o dia em que aprendeu a falar, ela é curiosa e questionadora sobre tudo. Mora na Selva de Pedra e trabalha com Audiovisual.