Um tímido retorno

Maria Elisa Nascimento
3 min readJun 7, 2024

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Sumi. Não porque não ame mais esse espaço, nem por não ter o que dizer, mas por me ver num momento em que eu não sabia como me colocar.

A escrita sempre foi mais que um refúgio. É a ponte que me permite chegar ao outro. Quando não sei como dizer, escrevo. E assim, mesmo sem a coragem do olho no olho, falo o que sinto que precisa ser dito. Em contrapartida, esse outro ganha o privilégio da reflexão, antes de elaborar uma resposta. Na minha opinião, essa é a maior vantagem do diálogo através da escrita. O intervalo.

Assim, sinto que essa minha ausência se faz ainda mais significativa e essencial. Saber o que não dizer também é uma forma de aproximação. E agora, depois de ser obrigada a repousar o corpo e sobrecarregar a mente por tanto tempo, acho que finalmente consigo escrever pra quem está de fora.

Minha primeira conclusão é óbvia. Mas entra naquela velha máxima… O óbvio também precisa ser dito. Mesmo quando a gente não acha que deveria ter que se repetir…

É muito mais difícil se curar quando se está no lugar que te adoeceu. E aqui, minha fala não é geográfica. É sobre as pessoas que nos rodeiam, o que elas nos dizem sobre elas, os outros e nós, e como conseguimos absorver essas palavras de forma construtiva…

E quem me lia sabe como eu estava exausta de me sentir pequena. Eu ainda me saboto, projeto minhas inseguranças nas vozes de quem talvez nem lembre que disse algo que me pegou tanto… Ouço essas pessoas na minha cabeça. Respiro fundo, me distraio e com muito custo me tiro do vórtex de terror. Mas agora eu me dou de presente o direito de me ausentar. E essa foi a segunda decisão importante que tomei durante meu recolhimento.

É imprescindível aprender a se fazer ausente. De lugares, pessoas e assuntos. Não vou porque não quero, não me sinto confortável, nem acho que tenho força suficiente pra enfrentar certas coisas com êxito.

Nessa ausência, é possível que eu não deixe nem saudade. Na maioria das vezes a gente não é marcante pra quem gostaria de impressionar. E tudo bem. Por que o reconhecimento e as oportunidades aparecem dos jeitos mais surpreendentes. E essa é minha terceira e mais alegre constatação.

É possível resgatar a fé sem se prender a rótulos, preconceitos e extremismo. A gente é amor encarnado, mesmo quando sente ódio, raiva, tristeza ou indiferença. E podemos nos fazer ser vistos, queridos, úteis e prósperos.

Isso, pra alguém que teve que aprender a abraçar o ceticismo pra sobreviver ao caos, é bastante inédito e especial.

Conseguir enxergar um horizonte, possibilidades e fertilidade onde tudo era cinza, pequeno e inóspito é uma magia que eu nunca conseguiria realizar sozinha. É bom poder acreditar que existe algo maior que cuida daquilo que eu não consigo consertar. E eu ainda não sei como cultivar esse vínculo, mas estou aprendendo. Mas se eu tiver algum novo insight, prometo que compartilho.

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Maria Elisa Nascimento

Apaixonada por palavras desde o dia em que aprendeu a falar, ela é curiosa e questionadora sobre tudo. Mora na Selva de Pedra e trabalha com Audiovisual.